quarta-feira, junho 18

Não tenho um blog nem uma matriz pronta. Doutor, é grave?

Excelente artigo de Walter Susini, publicado hoje no site do Grupo de Planejamento. Vale muito a pena ler.
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O que pode interessar a um planejador?

Com toda essa leva crescente de novos antenados, blogueiros, modernos, cool, planejadores globais, é difícil para um planejador que não teme parecer um dinossauro e pertence à velha guarda que começou a planejar antes da internet achar alguma coisa que eles julguem interessante.

Não tenho um blog. Esta informação sem dúvida deve horrorizar muitos de vocês. Não tenho porque a minha vida não tem coisas tão mirabolantes para contar, a cada dia ou mais de uma vez num só dia (nem Salgari tinha uma vida interessante para contar, ainda que sua imaginação fervilhasse mais que a de muitos planejadores).

Não gosto de trends. A nova cueca de pelúcia vestida pelos roqueiros da Papuasia não me dá frêmitos de prazer nem me estimula grandes pensamentos estratégicos.

Não gosto de ler cases de marketing nem de planejamento, assim como acho chatos e inúteis os livros que falam de “how to build super duper brands” ou “ikea, o milagre da madeira sueca”.

Não tenho modelos, formatos nem matrizes de planejamento para vender como novos milagres de estratégia. Não acredito em formatos nem em modelos. Encaixotam a cabeça, tornam a mente preguiçosa.

Odeio os novos acrônimos, scuppies, tweens e quantaltro. Acho o TED um dos poucos lugares hoje dignos de passar mais de uma meia hora na internet (desde que depois você pegue um livro ou garimpe a história das pessoas que participam no TED).

Se você chegou até aqui e ainda está interessado no que eu tenho a dizer, vou falar do que gosto e acho que pode ajudar a ser um planejador de algum sucesso como gostaria que os planejadores fossem.

Gosto de Zeca Pagodinho. Há mais insight nas musicas dele que em qualquer site de Russell Davies.

Gosto muito mais do que Sex and the City fala sobre a mulher moderna do que a opinião de uma socióloga brega de saia justa.

Gosto de Titanic e de E o Vento Levou, que usam os arquétipos mais antigos do amor reinventando-os em histórias que fazem chorar e esperar que o barco não afunde (sigh).

Gosto de ler lendas gregas. Cada uma delas me surpreende pela quantidade de insight e valores humanos que me ensinam; o cinema de Hollywood entendeu isso cem anos atrás e continua pescando as tramas de todos os seus filmes nos arquétipos das histórias antigas.

Gostaria que os planejadores assistissem à televisão, e não se vangloriassem de não fazê-lo. Gostaria que os planejadores assistissem a mais filmes dos anos 70, lessem mais livros de poesias, obras de Canetti, Dostoievski, Machado de Assis e menos livros de marketing e propaganda.

Gosto das paranóias de Woody Allen e da comédia italiana. Gosto de Rocky, Scarface e Godfather (quem quiser ver como os arquétipos do herói, do anti-herói, do ajudante mágico são usados nos filmes hollywodianos, nada melhor que assistir 20-30 vezes ao capolavoro de Coppola).

Gostaria que cada planejador nessa terra tirasse 2 horas para assistir (no lugar das histórias engraçadinhas do Youtube) a no mínimo um filme de: Kurosawa, Welles, Kubrik, Bergman, De Sica, Hitchcock, Lang, Mizoguchi, Keaton, Coppola, Bresson, Fellini, Kieslowski, Cimmino e Pasolini.

E, mais que tudo, gostaria que os planejadores não desejassem ser a estrela da propaganda. O palco é dos criativos. Nós somos o motor, o diretor atrás do palco. Não precisamos de aplausos, nem de flores.

Eu jamais quis ir a Cannes (e morava a 2 horas de distância) até que virei cliente (e, também como cliente, me dei conta que não era o lugar para mim depois de 20 minutos...). By the way, 2 meses depois do evento se você quiser pode comprar o CD com todos os filmes.

Gostaria, enfim, que os planejadores entendessem claramente que não existe estratégia sem execução. Um planejador não é nada sem um criativo, mesmo no caso dele ser um grande mau caráter.
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Por Walter Susini
Veja aqui

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